Divulgação científica e notícias de actividades realizadas , no âmbito da Física e da Química,
na Escola Secundária José Saramago - Mafra

14/05/17

ATIVIDADE - CURIE: UMA FAMÍLIA, CINCO PRÉMIOS NOBEL


No dia 26 de abril decorreu, na biblioteca da escola, a atividade “Curie: uma família, cinco Prémios Nobel”, dinamizada pelo Núcleo de Divulgação Científica em parceria com a Biblioteca da escola. Esta atividade teve como objetivo homenagear uma família que, pelo seu contributo para o avanço da Ciência, recebeu cinco Prémios Nobel, dois de Física e três de Química.



Convidámos para o efeito a Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia, professora catedrática aposentada do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que gentilmente acedeu ao nosso convite.

 Da vasta obra científica e literária da Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia faz parte o Ensaio-biográfico Marie Skłodowska Curie – Imagens de outra face. Esta foi a obra que escolhemos para divulgar e cuja leitura recomendamos com entusiasmo.


No dia 26 de abril a Química misturou-se com os livros da Biblioteca.














Foi neste ambiente que a Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia nos falou um pouco de si, de Ciência e de História da Ciência, divulgou livros sobre Ciência e certamente estimulou o gosto pela leitura. A palestra foi acompanhada pela leitura de trechos do Ensaio-biográfico Marie Skłodowska Curie – Imagens de outra face, efetuada por oito alunos da escola, vestidos com a bata dos Químicos.













No final da palestra foi lida, primeiro em Polaco,  língua materna de Marie Curie, e depois em Português, parte do Discurso de Inauguração do Instituto do Rádio, em Paris, proferido por Marie Curie em 1914. No ano em que homenageámos Marie Curie a escola recebeu um aluno, Remigiusz Stawecki, de ascendência Polaca. Coincidências?




Assistiram à palestra cerca de cem alunos acompanhados pelos respetivos professores. Esteve também presente a Coordenadora Interconcelhia para a Rede de Bibliotecas Escolares.



Aos leitores Carolina Velez, Catarina Baleia, Diogo Torres, Inês Fancaria, Margarida Lopes, Mariana Ribeiro, Remigiusz Stawecki e Simão Silva, o nosso obrigado pelo vosso entusiasmo e pelas excelentes leituras que fizeram.





 Aos fotógrafos, Tânia Antunes e Rodrigo Ferreira, autores das fotografias publicadas, deixamos também o nosso obrigado.




À Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia, agradecemos a magnífica e emotiva palestra que nos ofereceu, a disponibilidade, simpatia e afetividade que manifestou por nós e pelos alunos com que trabalhou e a quem se dirigiu. 





Para quem não esteve presente deixamos a transcrição de alguns dos textos do Ensaio-biográfico Marie Skłodowska Curie – Imagens de outra face, que foram lidos no decorrer da palestra. Certamente que a curiosidade pela leitura da obra irá surgir.

Marie terminou o ensino secundário com as mais altas classificações em todas as áreas de estudo. Esgotada, em genuíno estado de depauperação, é o pai que a obriga a passar um ano em férias no campo, ao ar livre e puro. Marie é jovem e, embora consciente de certas futilidades”, deixa-se embalar pelo prazer das festas, das danças enlaçadas, dos banhos refrescantes, dos flirts de ocasião. Verseja, até! Mas sabe que o tempo de lazer é efémero e, só por isso, o aproveita com tanto entusiasmo.
E agora, que fazer? As desilusões chegam depressa. O ensino superior na Polónia está vedado às raparigas. O irmão José quer ser médico, e sê-lo-á. Para tanto, bastará inscrever-se na Faculdade de Medicina de Varsóvia e atirar-se ao estudo. O que ele fez com êxito. Mas também a sua irmã Bronia quer ser médica e, no entanto, … E Hela e ela própria, o que lhes reserva o destino? A luta, a luta pela igualdade - mas a que preço! Paris, lá tão longe, é a terra prometida.
(Pág. 95)

O recebimento do Prémio Nobel da Física, com o seu valioso contributo monetário, veio aliviar o excesso de trabalho de Pierre, permitir a doação de bolsas a estudantes polacos, satisfazer pequenas ambições de familiares e amigos… e construir um quarto de banho moderno! Mas, ali!, a agitação que se desenvolveu em redor dos Curies, agora celebridades, minou o seu bem-estar e a sua felicidade. Não temos produzido bom trabalho…, lamenta-se Pierre. E, instintivamente, rejeita qualquer testemunho de admiração. Ele quer seguir apenas “os pensamentos dominantes”… e sente-se paralisado. Recusa entrevistas. Aos sintomas físicos que as emanações radioactivas nele determinam, fortes dores musculares principalmente, associa tonturas e cefaleias de origem nervosa.

E Marie? O que se passa com Marie não é muito diferente. Ao seu trabalho de investigação e de docência, associa os deveres maternais. Anda tensa. Dificilmente esquece o aborto inesperado aos cinco meses de gravidez. Abordam-na na rua: A senhora não é Mme Curie? Não, não sou, é a sua resposta.

Quando tudo parecia mais simples, eis que tudo se complica. Escreve Ève Curie que “Marie Curie não soube ser célebre”. É um facto. E acrescentamos nós:… e menos ainda Pierre Curie.
(Págs. 24-25)


Marie Curie era filha de professores. E tanto ela como Pierre não só investigavam como se dedicavam ao ensino. Os seus amigos, professores eram. Não admira pois que a instrução, particularmente a instrução científica, fizesse parte dos desígnios a que as filhas desde bem cedo teriam de se submeter. Mas não seria uma instrução qualquer, padronizada e frágil, como era a que se ministrava nas escolas quer públicas quer particulares. Marie sabia que a vontade de Pierre não seria diferente da sua. Entendeu-se, então, com outros colegas pais de família e, conjuntamente, decidiram-se por um ensino “elitista” para os seus filhos. Eram uma dezena de crianças, os filhos do Curie, dos Langevin, dos Perrin, … que iriam ter por mestres os seus sábios pais e amigos: Jean Pierre para a Química, Paul Langevin para a Matemática, Henri Mouton para as Ciências Naturais... E também, evidentemente aprenderiam História de França e Literatura com Henriette Perrin (mulher de Jean Perrin), Inglês, Alemão, Geografia... Escultura! Só uma aula por dia, de uma só matéria, em casa do professor. Durante o resto do dia as crianças eram livres de correr e brincar.de preferência ao ar livre.
(Págs. 51-52)



A liberdade dos alunos era aparente, por vezes tinha aspectos de grande dureza. As meninas Curie, conta-nos Ève, raramente sofriam castigos, eram “boas alunas”, mas pequenas faltas podiam ser severamente penalizadas. Uma vez Marie Curie ficou dois dias sem dirigir a palavra a Irène e, de outra vez, por uma resposta errada, atirou o caderno da pequena por uma janela...

Boas maneiras? Bom, salvo aspectos particulares, eram consideradas secundárias. Não deviam falar demasiado alto, rir às gargalhadas e chorar em público. Pedia-se-lhes resistência … Marie ensinou-lhes a nada temer, nem o escuro, nem as tempestades, nem as coisas más da vida. Não tiveram qualquer educação religiosa, mas sempre lhes foi dito que poderiam optar em consciência. Sabe-se que Irène nunca entrou numa igreja, nem mesmo para a visitar como obra de arte.

Perante este panorama ser-nos-á mais fácil imaginar a decisão de Marie de introduzir Irène, então com dezassete anos, em cenário de guerra.
(Págs. 51-52)



O Governo francês pede ao povo que doe ouro e prata para sustentar os custos da campanha. Marie quer entregar as suas medalhas dos Prémios Nobel, mas a oferta é recusada. Tem ainda guardado o quantitativo do seu segundo Prémio Nobel , nunca o levantara do banco sueco, o dote prescrito para as “suas meninas”. Conversam entre si … e decidem entregar boa parte desse dinheiro. O futuro? Depois se verá.


Marie Curie sentiu grande orgulho no esforço de guerra da sua filha Irène. Também o Governo francês não se esqueceu dela e outorgou-lhe a Medalha Militar. A Marie, porem, nem uma palavra.
Era tempo de inaugurar a sério o Instituto do Rádio em Paris. Tão impaciente estava Marie quanto Irène para voltarem à investigação. Penso muito no trabalho que teremos pela frente, diz Marie. Marie pensa ainda na grande alegria de ter na jovem Irène uma companheira de trabalho e uma cientista de excelência.
(Págs. 54-55)



Recomendamos também a leitura do Ensaio-biografia Dorothy Crowfoot Hodgkin – Pepsina, Penicilina, Colesterol, Vitamina B12, Insulina, que a Professora Doutora Raquel Gonçalves-Maia teve e gentiliza de oferecer à Biblioteca da escola. 




Terminamos com uma pequena biografia de Marie Curie, adaptada de Marie Skłodowska Curie – Imagens de outra face (Págs. 113-117), acompanhada de imagens de um powerpoint elaborado para o efeito.












Em 1903 os trabalhos de Henri Becquerel e de Marie e Pierre Curie veem o reconhecimento internacional, através da outorga do Prémio Nobel da Física. Metade do prémio foi entregue a Antoine Henri Becquerel "em reconhecimento aos serviços extraordinários prestados pela sua descoberta da radioatividade espontânea" , a outra metade conjuntamente a Pierre Curie e Marie Curie "em reconhecimento dos serviços extraordinários prestados pelas pesquisas conjuntas sobre os fenómenos de radiação descobertos pelo professor Henri Becquerel ".
 
Em 19 de abril de 1906 Pierre Curie, ao atravessar a Rue Dauphine em Paris, morre atropelado por uma carruagem. Marie tinha 47 anos. A cátedra de Pierre na Sorbonne é oferecida a Marie que passará a ser a primeira mulher a lecionar nesta instituição.




Em 1911 Marie Curie recebe o seu segundo Prémio Nobel, desta vez da Química, "Em reconhecimento do seu contributo para o avanço da química ao descobrir os elementos rádio e polónio, pelo isolamento do rádio e pelo estudo da natureza desse elemento notável".






Em 1912 Marie Curie é nomeada diretora do Laboratório Curie do Instituto do Rádio em Paris. Na prática este só estará pronto em 1914, nas vésperas do rebentamento da Primeira Guerra Mundial. Irène Curie irá para este instituto trabalhar com a mãe.






Em 1914 Marie e a sua filha Irène, então com 17 anos, participam ativamente na instalação de aparelhagem de Raios X em cerca de 200 veículos, Les Petites Curies, que conduzem até perto dos campos de batalha, onde examinam doentes e auxiliam no tratamento de feridos.




Em 1922 é criada a Fundação Curie, com vista ao desenvolvimento mais efetivo do estudo e aplicação terapêutica da radioatividade no tratamento de cancro e doenças da pele. A academia de Medicina de Paris elege Marie como membro.





Em 1933 Marie assiste, deslumbrada, à descoberta da “radioatividade artificial” pelo trabalho conjunto da sua filha Irène e do seu genro Frédéric Joliot, facto pelo qual lhes foi atribuído, em 1935, o Prémio Nobel da Química.




Marie Curie morre no dia 4 de julho 1934, no sanatório de Sancellemoz, com 66 anos. O contacto prolongado e descuidado com materiais radioativos provocou-lhe a morte por anemia aplástica.


A filha mais nova de Marie e Pierre Curie, Ève Curie, publicou a biografia de sua mãe Madame Curie que, em 1943, deu origem a um filme com o mesmo nome.




Durante a II Guerra Mundial, o regime de Vichy, regime francês que apoiou a Alemanha Nazi, retirou a Ève Curie a cidadania francesa. Ève mudou-se para os EUA onde faleceu com 102 anos. Após a guerra foi editora do jornal francês Paris-Press.



Adaptado de: Gonçalves-Maia, R. (2011). Marie Sklodowska Curie Imagens de outra face. Lisboa: Edições Colibri.